sábado, 11 de fevereiro de 2012

O amor acaba!



O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Quando o amor acaba, acaba primeiro pra um

"Houve um tempo em que um beijo nos calava a voz
E o silêncio era Eu te amo
Vem de volta pro futuro que ainda há pra nos.
Ah o amor só dói pra quem não volta atras..."
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Musica da semana: "De volta pro futuro" Roupa Nova
É daquelas que vc ouve na segunda feira e fica a semana inteira cantarolando... Daquelas que ... não tem jeito... pode cantar outra, pode desviar a mente... mas fica na sua cabeça por dias. Até que, do nada, sai.
Por isso acabei incorporando o compositor e tentando entender o que o levou a escrever essa letra. Ele deve ter levado o maior fora da namorada. Ou sua amada na verdade nunca foi dele, um amor platonico, talvez irreal. Ou simplesmente era um casal, e o amor dela acabou. Não entendo muito isso, mas sei que acontece aos montes. Não entendo como o amor acaba de repente... (o meu não acabou), como se fosse um sentimento como raiva ou tristeza. Hoje eu amo, porque estou de bom humor. Amanhã ja não sei. Ouvi uma frase interessante esses dias: "O amor é que nem elástico. O que solta primeiro machuca o outro". Me dei conta dessa verdade: "Quando o amor acaba, acaba primeiro pra um." E começei a me lembrar de outros sentimentos que tive em algum momento da minha vida...e que acabou.
Então é isso: o amor não é nada de especial, como dizem os poetas. O amor é só um sentimento. Hoje, sinto amor. Devo amar, porque não sei até quando vou sentir isso.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Meus Dias são Iguais

"Haverá sempre uma data. uma palavra, um olhar, um filme, uma musica, um ponto, um sorriso, um motivo que me fará lembrar de você."

É surpreendente que a cada ano que passa, aumenta ainda mais a insegurança e a incerteza da vida. Devia ser o contrario, devíamos ganhar madureza e serenidade a cada minuto vivido.
Prometi a pessoa que converso no espelho, que esse ano seria diferente. Que levaria apenas as coisas boas e que me fazem bem. Mas ... como avaliar as coisas que realmente me fazem bem. Existem coisas que eu me agarro há anos, mas não por me fazer bem. Não que me faça mal, mas também não me leva a lugar nenhum. Queria entrar em 2012 livre dessas amarras que trago pendurada nos ombros. Quero realmente "vida nova", mas quero tanto... com tanta intensidade, que no primeiro dia do ano, senti como se ja tivesse conseguido isso.

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